Algumas organizações manifestam comportamentos avulsos ou desvios de foco que não condizem com o propósito que declaram. Uma editora forense que diz ser especializada em publicações jurídicas publicar livro de introdução a finanças é uma manifestação desse tipo. As organizações tendem a querer ser tudo para todos, embora muitas reconheçam que isso as levará mais adiante a ser nada para ninguém, pela dificuldade de dizer não a oportunidades imediatas de negócio. A negativa de negócio resulta em perda de realização de receita e quando há metas financeiras de curto prazo a serem alcançadas é preferível o imediatismo mesmo tendo de conviver com frustrações de longo prazo.

Organizações, produtos e serviços precisam ser reconhecidos por poucos atributos. A mente humana tende a simplificar as informações e agrupá-las em prateleiras etiquetadas como em um supermercado. Cada item da prateleira possui alguma utilidade que está descrita na etiqueta. Enviar encomendas ou correspondências está associado a agências dos correios e depositar ou sacar dinheiro a agências bancárias ou caixas eletrônicos. Agências dos correios podem eventualmente atuar como agências bancárias, mas isso não tem conexão com o propósito original (de enviar encomendas ou correspondências) descaracterizando a etiqueta de utilidade na mente dos clientes e o foco de atuação dos colaboradores. Isso não ocorre quando os negócios estão bem caracterizados e operam dentro de um ecossistema. É o caso de postos de gasolina que possuem restaurantes. A utilidade de cada um está devidamente etiquetada na mente das pessoas que não confundem posto com restaurante, apenas sabem que estão associados por conveniência. Se querem beber ou comer algo vão ao restaurante, não pedem ao frentista, se querem completar o tanque de combustível não pedem ao garçom. Cada negócio deixa claro seu propósito: o posto em prover uma experiência de abastecimento e o restaurante em prover uma experiência gastronômica. Embora funcionem em conjunto, não faz sentido criar um propósito combinado para ambos se a visão dos clientes é separada.

Quando não há firmeza de propósito organizacional:

  • Os clientes perdem a etiqueta de definição do negócio e não compreendem a relação que existe entre produtos e/ou serviços oferecidos
  • A organização faz qualquer negócio para não perder uma boa oportunidade de receita
  • Na perspectiva do cliente, a organização faz coisas que não têm sentido
  • O propósito organizacional está associado a objetivos de negócio, tais como liderança de mercado e preocupação com reputação.Não está errado ter como objetivo ser o número um ou ser o melhor, mas isso não explica o porquê de existir da organização.

A falta de firmeza de propósito pode estar conectada a uma fraca convicção sobre o retrato do futuro. Para que as pessoas fixem uma mensagem ou ideia, ela deve ser simples, compacta, com um conteúdo concreto e que possa ser compreendida com os sentidos. Abstrações dificultam o entendimento e para fixar uma mensagem ou ideia, é necessário ter credibilidade e apelo emocional despertando interesse das pessoas, inspirando-as e levando-as a se identificar com o propósito.

Redigida por
Jose Davi Furlan

© José Davi Furlan

21/05/2015