jul 03 2015
O maior problema não é o maior problema
Mudança é difícil porque as pessoas se cansam e o que pode parecer resistência muitas vezes é exaustão. Psicólogos descobriram que o autocontrole exaure o estado emocional assim como os músculos se exaurem quando submetidos a esforços contínuos. As pessoas vivenciam situações de autocontrole a todo o momento – gerenciando a impressão que produzem em outras pessoas, lidando com temores, controlando gastos, tentando se concentrar em algo. Soma-se a isso a exaustão resultante do trabalho do dia a dia, da vida cotidiana, de processar um volume crescente informação e de fazer escolhas entre um número crescente de opções. Falta de clareza sobre o que se pretende fazer e onde se quer chegar é outro fator que gera resistência, assim como traumas vividos em situações anteriores de mudança influenciando a percepção sobre a mudança atual. Não adianta simplesmente dizer às pessoas “precisamos reinventar o negócio”, é necessário mostrar o que fazer, motivar e moldar o caminho. Se o escopo da mudança em andamento for maior do que do passado, as expectativas podem ficar ainda piores. Então, exaustão, falta de clareza e traumas são elementos-chave na composição da resistência à mudança. Muitas vezes, é necessário ocorrer uma crise para convencer as pessoas que elas estão de frente a uma catástrofe e não têm escolha, a não ser se mover.
Um problema difícil pode facilmente se tornar um enorme impedimento levando à procrastinação e paralisia. A melhor forma de endereçá-lo é reconhecer que ele não é o problema principal. Colocando-o de lado em vez de buscar sua solução permite à mente liberdade de ação para descobrir novas possibilidades. Eis alguns exemplos: toda vez que são discutidas soluções para o trânsito, acaba-se invariavelmente propondo alargamento de ruas, construção de pontes e túneis para comportar mais veículos. De tão focados em encontrar soluções, os técnicos esquecem que o problema principal não é mais ter por onde andar, mas o tamanho exagerado dos veículos. Qual é a necessidade de um automóvel com capacidade para transportar cinco passageiros se 75% a 100% do tempo transporta somente o motorista? Quando se diz que o problema é ter mais hospitais, por que não fazer com que menos pessoas precisem de um hospital? Quando se diz que é preciso limpar os rios, por que não deixar de poluí-los? Rios se limpam por conta própria. Se está difícil vender, por que não locar – montadoras locando carros em vez de vendê-los? Se está difícil manter um restaurante fixo, por que não torná-lo móvel –food trucks? Se idosos de um asilo estão apáticos, por que não instalar uma pré-escola que funcione no mesmo lugar? Ao mudar de perspectiva, expandem-se as possibilidades para que se veja aquilo que antes não era possível levando a novas ideias e soluções.
Business Transformation não se limita a melhorar eficiência, eliminar erros, fazer a mesma coisa um pouco melhor ou solucionar crises imediatas. É sobre como ter uma nova visão, repensar o negócio e redefinir o mercado. Em geral, os negócios tendem a evoluir para a perda de desempenho ao longo do tempo se nada importante for feito. Pequenas mudanças constantes com foco funcional têm conduzido as organizações à perda de eficácia. Como ponto de partida para iniciativas de transformação é necessário se colocar na posição de clientes, colaboradores, sociedade, meio ambiente e ecossistemas de negócio, e não somente na posição de gestores e acionistas, para entender a transformação sob novos pontos de vista. Sem isso, não se estará praticando transformação na intensidade requerida.
© José Davi Furlan
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