jun 29 2015
Resistir à mudança é perda de tempo
Todas despertam pela manhã no presente, mas muitas pessoas passam o dia no passado condicionadas a um modo de vida que não faz mais sentido. Quando vão ao trabalho, à escola ou às compras não se deslocam apenas no espaço, mas também no tempo. Atravessam o “túnel do tempo” e passam a revisitar crenças e hábitos de décadas passadas. Não significa que vivam no passado, mas que o passado vive nelas.
Em geral, as pessoas querem manter a mesma vida de sempre e a palavra “sempre” parece ser um par perfeito para a felicidade: “e viveram felizes para sempre”. É como a manifestação do princípio da inércia que todo corpo tende a continuar em seu estado de repouso ou movimento a menos que seja forçado a mudar. Não é diferente nas organizações como reflexo da psique humana individual em um plano coletivo. Apesar de o desejo humano oculto pelo congelamento do tempo, o fluxo de transformação da sociedade avança ininterruptamente e em velocidade crescente.
Se os momentos se vão, o que é inevitável, as pessoas ficam na esperança de um dia revivê-los e voltar ao que era. Freud explica que é da natureza humana o impulso inconsciente de repetir situações e comportamentos que foram positivos na história da vida, em particular quando se está em momentos de dificuldade. Os principais problemas diante de qualquer mudança significativa são as barreiras humanas, inércia e interesses ocultos, o ser humano não é previsível e a sociedade é um sistema vivo, mutável e instável. A resistência à mudança normalmente está conectada ao sentimento de risco de diminuição de importância e privilégios, e embora seja certo que a maioria tende a preferir uma vida rotineira e sem riscos, resistir à mudança é perda de tempo. As pessoas geralmente acreditam que as situações que vivem são inéditas e não se dão conta que a história é uma sequência de eventos que se repetem de outras formas. É o caso de novas tecnologias que sucessivamente causam algum grau de impacto quando são lançadas. Seneca no século I a. C. dizia que a luta do homem contra as mudanças e o fluxo da natureza, como resultado de ignorância e uma vida mal vivida, somente acaba por diminuir o tempo de sua existência. A cada instante o universo se transforma em algo diferente, não há como deter o fluxo.
Nas organizações, o pensamento corrente é primeiro planejar e depois executar, sem geralmente considerar uma etapa de aprendizado, prática e consolidação. Raramente uma transformação ocorre de maneira suave do início ao fim, mesmo contando com equipes otimistas, preparadas e motivadas. Em iniciativas de Business Transformation, surgem obstáculos, a motivação diminui e o otimismo cede espaço à depressão. Em muitas situações as mudanças têm desapontado, desperdiçando recursos e frustrando pessoas. Para criar um novo mundo o melhor a fazer não é lutar contra a realidade existente, mas construir uma nova realidade que torne a existente obsoleta. O obsoleto desaparece por conta própria. Não faz sentido gastar tempo e energia em mudar uma realidade repleta de entraves e obstáculos se ela foi criada para ser assim. O segredo do sucesso é focar toda a energia na construção do novo e não na luta contra o antigo.
© José Davi Furlan
25/06/2015
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